MAIS SANGUE, NÃO!
Não foi este infausto acontecimento, mesmo aqui à
“nossa porta”, que me levou a escrever, este simples e despretensioso texto. Já
andava a pensar em “desabafar” há muito tempo.
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Foi aqui, neste local, com a Casa da Justiça ao fundo, que caiu, inanimada, mais esta vitima de violência domestica |
Mas esta tragédia impeliu-me a não esperar mais e,
manifestar aqui o meu sentimento de revolta, perante o que se está a passar na
nossa sociedade, onde, hoje, uma vida humana, não tem valor nenhum.
E, quando as estatísticas nos dizem que, a continuar
assim, iremos ultrapassar os números do ano passado, ainda se torna mais
revoltante, pois, afinal, ao contrário do que se apregoa, sempre que se dá um
casos destes, ninguém faz nada para evitar mais mortes. Reagesse na altura,
perante as câmaras de televisão ou em entrevistas para os jornais, vai-se a
alguns funerais para ficar na foto, mas depois, tudo fica na mesma.
Quantos de nós, tomamos a iniciativa e a obrigação, de
participar casos de violência doméstica, que até conhecemos? “Ah! Isso não é
nada connosco, eles que se entendam” é a forma airosa de lavarmos as mãos e,
deixamos à sua sorte, os desavindos que, mais tarde ou mais cedo, vão acabar,
derramando mais sangue.
E o Estado, não pode fazer nada, ou pode e não faz? Ou
será que se preocupa mais com os assassinos do que com os assassinados e suas
famílias? Promover encontros sexuais aos detidos é mais importante do que
indemnizar quem de direito. “Coitadinhos dos presos, nem mulher/homem podem
ter”. Assassinos que matam guardas, civis, e deixam dois ou três mais, em
situações de fragilidade, são recompensados com redução de penas por “bom
comportamento”, têm direito a isto e a aquilo, são só direitos. E pagar as
indemnizações a quem eles fizeram mal, não é tido em consideração?
Para mim, isto é muito mais profundo do que se possa
pensar. “Ah! Isto é passageiro, são fases, nós somos um povo calmo e mais cedo
ou mais tarde vamos voltar a ser o que éramos”. Não, isto vai piorar cada vez
mais, enquanto não voltarmos a reger-nos por valores que, entretanto, foram
descartados e atirados ao caixote do lixo. E enquanto não voltarmos a
cultivá-los, a utilizá-los no nosso dia a dia, nada vai melhorar.
Os verbos amar, perdoar, confortar, ajudar,
compreender, escutar deixaram de ser conjugados. Em seu lugar, matar, violentar,
desgraçar são os mais utilizados, pondo em prática comportamentos violentos,
adquiridos pela falta de amor ao próximo.
Rezemos pelo descanso eterno de mais esta vitima de violência
doméstica gratuita. Pelos filhos que se vêm privados dos pilares mais
importantes para o seu são crescimento. Peçamos para que, este lençol de sangue,
derramado gratuitamente, seque de uma vez por todas, e que as pessoas vivam na
paz e no amor, como sempre deveriam viver.
José Campos
in
“Ecos do Sameiro” setembro de 2019