domingo, 27 de maio de 2018


O RIO QUE ME ENCANTA

Não fosse o caso, de me sentir, a morrer, por dentro, e este sábado, 26 de maio do ano de 2018, poderia considerá-lo, como dos "melhores dias que tenho vivido nos últimos tempos". E têm sido poucos. E isto tem uma razão de ser, que vou tentar explicar.
Longe vão os tempos, mais de trinta e cinco anos, em que, mesmo em solitário, pegava na "minha amiga", na altura, uma Órbita de cor vermelha, comprada na fábrica de Águeda, e resolvia percorrer umas  boas dezenas de quilómetros, por essas estradas fora, sempre em passeio (o que na realidade me dá prazer), e assim, conhecer caminhos e estradas, becos, ruas e ruelas em tudo o que é terra, principalmente, em redor da minha zona de residência, desde 1977.
Ansiava pela chegada de tempos livres (fins de semana, feriados e férias) para poder soltar-me, sair sem destino marcado, nem tempo de chegada. E como eu "bebia" aquelas tardes longas, dos sábados grandes de luz, que me davam margem para parar, fotografar e apreciar os sítios por onde me imiscuía.
Sempre gostei de lugares, de preferência, com planos de água, muito mais de rios do que mar, muito mais de planície do que serra, mas sempre, daqueles em que a natureza marca a sua presença em força. Matas, pinhais, estradas agrícolas, tudo fora do transito frenético das estradas principais. Como era bom beberricar na fonte à beira do caminho, conversar com os camponeses na altura da sementeira das batatas ou durante as vindimas. Como era bom, aproveitar a sombra refrescante daquele carvalho, que ainda nos presenteava, com dois ou três ouriços cheios de castanhas. Espreitar a curva do rio e ver a queda de água mais à frente. Passar a ponte para a outra margem e descer a estrada de terra que nos leva à aldeia submersa pela barragem que encheu. Ó dias de glória, pela paz que me trouxeram, pela alegria que me deram e pela recordação, boa, que, ainda hoje, tenho deles.
E, já na calmaria do descanso, o reviver do dia passado, embrenhado na natureza, junto ao rio, ao lado do ribeiro, no sobe e desce do caminho, no tocar dos sinos a alertar para as horas que estão  a passar, tudo voltava a passar-me pela mente. E adormecia num suave sono, cansado, mas saciado de tanta beleza que vi, de tanta gente que conheci.
Pois bem, e era aqui que queria chegar. Ontem telefonei à Joana, minha filha mais nova, falei com o meu sobrinho Jacobo e com o meu neto Diogo, a indagar do interesse, em me acompanharem, num pequeno passeio à "moda antiga". Um por uma razão, outro por outra, não tinham disponibilidade, para me fazerem companhia. Pensei, para não ir sozinho, cancelar a saída, remarcar para outro dia. Mas a minha vontade era tanta que, assumi a "responsabilidade" e, ao inicio da tarde, bicicleta no carro e, zás uma dezena de quilómetros e fui, precisamente para as margens de "O rio que me encanta".
Foram mais de trinta quilómetros que fiz, com a minha amiga, quase todos pelas margens do rio Cávado. Comecei em Prado, atravessei a velha ponte medieval e fiz a Ecovia até Ruães. Parei várias vezes, conversei com um ou outro pescador que, nas margens do rio, tentavam surpreender os anfíbios. Olhei para a grande curva do rio, para a queda de água ao passar a pequena barragem da Hídrica de Ruães.
Voltei pelo mesmo caminho de forma a apreciar, de outro ângulo, a formusura da belíssima ponte de Prado. Dei, mentalmente, os meus parabéns, aos responsáveis, pela execução destes cerca de dois quilómetros de ecovia, dos muitos que nos prometeram. Passei novamente para a outra margem, onde me lancei pela veiga que se estende à beira rio, desde Prado até Cabanelas. Por momentos fez-me lembrar as planícies da Holanda. Dos campos de milho, com as linhas de milho, muito desalinhadas, passando pelos pastos para os equídeos, sempre com o rio a olhar-nos, paramos no bonito e asseado parque de merendas de Cabanelas. Pausa para "meter combustível". Uma boa banana, duas bolachas e um gole de água fresca, retemperam forças, para o que ainda falta pedalar. De volta à extensa veiga, por estradas e caminhos, galgo o que ainda falta, para chegar ao ponto de partida. Ao longe, ouço música. Vou seguindo o seu sinal e acabo por identificar o local, de onde ela é "oriunda". Aproximo-me e dou com uma concentração de motos na Praia do Faial em Prado. Como gosto, entrei e pude ver aqueles amigos ao estilo "easy rider". E finalmente , como nos bons velhos tempos, estou defronte do palco, onde uns afinados músicos, que sabiam que eu ia por ali passar, tocavam as músicas do "meu tempo": Pink Floyd, Black Sabbath, Nirvana e Steppenwolf, entre outros. E assim o meu dia acabou em beleza. 
E afinal, o porquê de tanta satisfação?  
Apenas porque o fiz sozinho, senti-me como se estivesse nos meus vinte e cinco anos, andei por sítios lindos e conheci pessoas simpáticas. E tudo à beira  de "O rio que me encanta".
Pena foi, acordar "deste sonho".

Veja um pequeno vídeo em:





 https://youtu.be/uOIAMrGtsF0






José Campos
 

ASSIM, NÃO. .. A continuar assim, muita gente vai deixar de ir ver o rali ao vivo e, eu sou, desde já, um deles. Não se pense que, ao lerem ...