Dia 26 de Junho – Dia
Internacional de Luta contra a Droga
Costuma
associar-se ao D de Droga valores e questões tão negativos como sejam o D de
Desgosto ou o D de Desilusão. Mais grave é o D de Dependência e o D de Destruição.
Encaixado entre o C de Confiança e o E de Esperança, o D de Droga é, primeiro,
um mal individual e, depois, um mal familiar, profissional, social… Percorrendo
todo o abecedário, podem relacionar-se diversas designações e sinónimos com o D
de Droga, mas os mais importantes são o A de Acreditar e o L de Libertação.
A
toxicodependência é um dos problemas sociais mais graves do nosso tempo.
Ninguém pode alhear-se desta realidade. Apesar da toxicodependência ser uma
doença, esta não é aceite nem entendida como tal pela generalidade das pessoas;
muitos negam mesmo que se trate de um problema de saúde. A identidade social do
toxicodependente deve-se à existência de um sistema normativo, onde estão
inerentes pressupostos que precedem o indivíduo e que permitem rotular o
toxicodependente enquanto tal. Os significados e os símbolos permitem criar
imagens, as quais permitem avaliar e conduzir ao preconceito e à exclusão.
Este
fenómeno deve ser encarado, pois se aceitarmos que a droga é um problema
humano, que a toxicodependência é um problema social, então temos que aceitar
também que o problema é de todos, ou seja, diz respeito a cada um de nós. Todos
somos responsáveis, pois este e outros problemas como a guerra, a fome, a
exclusão, o racismo, entre outros, resultam da forma como a sociedade está
organizada – e somos nós que a organizamos.
Quando
falo aqui em responsabilidade, é claro que não estou apontar “culpados”, isto
seria olhar para o passado. Esta ideia de responsabilidade aponta para o
futuro, para a gestão do problema. Aí sim, todos temos um papel a desempenhar e
assumir que a nossa sociedade é fundamental. Por outras palavras, ser
responsável é respeitar a vida, cultivando uma atitude ética face à nossa vida
e face à vida dos outros.
Gostaria
de partilhar uma pequena reflexão feita através da parábola do leproso Lázaro,
relacionando-a, de certa forma com esta problemática da toxicodependência. De
todas as doenças conhecidas no Oriente, a lepra era a mais temida. Não só por
ser uma enfermidade que destruía o corpo mas também por ser uma doença social.
Esta
doença era reconhecida como símbolo do pecado: tudo aquilo que o leproso tocava
ficava imundo e até o ar era poluído pelo seu hálito. A separação social era
terrível. Os doentes tinham de ser isolados do restante da comunidade, convivendo
única e exclusivamente com outros leprosos, fora das cidades, dentro de
cavernas.
Este
ser humano era privado do convívio com os outros, separado da família e dos
amigos, sofrendo as consequências da sua enfermidade. Era obrigado a publicar a
sua desgraça, rasgar as suas vestes, fazendo soar o alarme, advertindo a todos
para fugirem da sua presença.
Jesus
ministrava a Palavra numa região onde existiam muitos doentes leprosos. Lázaro
fazia parte destes sofredores. Os milagres de Jesus enchiam o seu coração de fé
e esperança e por isso, começou a procura-Lo. Quando O encontrou, a questão era
outra: como aproximar-se de Jesus?
Lázaro
era excluído, discriminado, marginalizado. Tinha a vida devastada pela lepra.
Como é que Jesus o atenderia se a sua doença era considerada o símbolo do
pecado? No entanto, este homem começou a seguir de longe a Jesus e depressa
percebeu a forma como Ele tratava os oprimidos e ignorados da vida: nenhum era
rejeitado, ninguém que procurasse auxílio era reprimido.
Encheu-se
de coragem, foi até Jesus, confessou-Lhe as suas incapacidades, arriscou, ousou
ser diferente e pedir ajuda. Toda a sociedade fugiu, escondeu-se. As pessoas
ficaram apavoradas, tentaram impedir este homem de seguir o seu caminho. Mas,
Jesus ficou.
O
leproso encontrou em Jesus um amigo, encontrou a esperança. Jesus quebrou
paradigmas ao tocar o leproso; Ele poderia tê-lo curado apenas com uma palavra
mas Ele tinha uma lição para nos ensinar “estendeu
a mão e tocou”, mostrando assim os valores da Humanidade e do Amor. Jesus
não curou apenas o corpo de Lázaro, mas com o toque Ele curou também, a alma
ferida deste homem.
Assim,
todos nós, seres humanos e crentes em Jesus podemos agir da mesma forma: não
importa qual seja o mal que determinada pessoa enfrenta, seja pecado, doença,
descriminação, pobreza ou vício. Todos podemos contribuir para a esperança da
vida de alguém.
Clarisse
Queirós
SOCIÓLOGA